Últimas Vagas - Curso de Bartender Profissional de Maio
Por Braynner Scherz | 05 de Abril de 2025
Se tem uma coisa que aprendi ao longo dos anos como professor e consultor de bar, é que todo coquetel carrega uma história. Às vezes essa história é antiga, cheia de tradições; às vezes, ela é recente, mas já cheia de identidade. Um exemplo clássico disso é o famoso Moscow Mule.
Moscow Mule é um coquetel que, para muitos brasileiros, já tem sabor próprio: forte, refrescante, com espuma cremosa e servido em uma charmosa caneca de cobre. Mas será que o que você toma por aqui é realmente o Moscow Mule original? A verdade é que não. Existe uma grande diferença entre o Moscow Mule Clássico e o que chamamos carinhosamente de Moscow Mule Brasileiro. E hoje quero compartilhar com vocês essa história, esse dilema, e minha visão como mixologista sobre essas duas versões.
A HISTÓRIA DO MOSCOW MULE
O Moscow Mule nasceu nos Estados Unidos, e não na Rússia, como o nome pode sugerir. Nos anos 1940, John G. Martin (da Heublein, distribuidora de vodka Smirnoff nos EUA) e Jack Morgan (dono do bar Cock'n Bull em Los Angeles e criador de uma ginger beer artesanal) uniram forças para popularizar a vodka – que na época era uma bebida pouco consumida por lá.
Eles criaram então um drink simples, porém refrescante e cheio de personalidade: vodka, suco de limão fresco e ginger beer, servidos em uma caneca de cobre – essa última ideia veio de uma empresária que tinha um estoque de canecas que não conseguia vender. Juntos, criaram não só um coquetel, mas também uma estratégia de marketing brilhante, com fotos e campanhas que ajudaram a fazer do Moscow Mule um sucesso. E foi assim que o drink se espalhou pelos Estados Unidos e depois pelo mundo.
GINGER BEER NÃO É CERVEJA!
Um dos maiores equívocos que vejo nos bares brasileiros é a confusão entre Ginger Beer e cerveja com gengibre. Já presenciei bartenders tentando recriar o Moscow Mule original usando cerveja com um toque de gengibre ralado ou xarope de gengibre. E olha... isso pode até ser criativo, mas não é o Moscow Mule clássico.
Ginger Beer, apesar do nome, não é uma cerveja tradicional. É uma bebida fermentada à base de gengibre, água e açúcar – sem malte, sem lúpulo e, muitas vezes, sem álcool (ou com teor alcoólico muito baixo). Ela tem um sabor picante e intenso de gengibre, efervescência natural e um leve dulçor. É isso que dá ao Moscow Mule Clássico aquela toque refrescante e equilibrada.
Aqui no Brasil, o Moscow Mule ganhou uma nova cara. Foi o bartender Marcelo Serrano, um dos nomes mais respeitados da coquetelaria brasileira, quem criou uma versão que virou febre. Em vez de apenas usar ginger beer, ele incorporou uma espuma por cima do drink, feita com gengibre e limão, o que trouxe uma nova textura e uma identidade marcante para o paladar brasileiro.
O sucesso foi imediato. A ideia da espuma caiu nas graças do público, e o que era um twist criativo virou quase uma regra. Hoje, em praticamente qualquer bar ou restaurante do Brasil que sirva um Moscow Mule, você vai encontrar essa versão com espuma. E mais: cada bartender parece ter a sua própria receita da "espuma perfeita".
Muita gente me pergunta: "Professor, do que é feita essa espuma?". Bem, a espuma é uma técnica da mixologia que visa criar uma camada leve e cremosa sobre o drink. No caso do Moscow Mule Brasileiro, a espuma é normalmente feita com suco ou xarope de gengibre, sumo de limão, algum tipo de emulsificante de sorvete ou goma xantana para dar estabilidade e textura. Algumas versões utilizam clara de ovo.
A espuma é feita no sifão, com uso de cápsulas de gás, e aplicada sobre o drink já montado. Essa camada de espuma, além de visualmente atrativa, intensifica o aroma do gengibre e deixa uma sensação aveludada na boca. É uma técnica que exige técnica e cuidado – e é aí que entra a importância de se formar como bartender profissional.
ESPUMAS INDUSTRIALIZADAS: FACILIDADE OU ATALHO?
Hoje, já é possível encontrar no mercado brasileiro espumas prontas, industrializadas, em spray ou em versões líquidas para uso com sifão. Isso facilita bastante a vida dos bares com alta demanda, ou para eventos em que a agilidade conta muito. Mas claro: nada substitui o sabor e a personalidade de uma espuma feita na hora, com ingredientes frescos e dosagem personalizada.
A DIFERENÇA NA PRÁTICA
Vamos fazer um exercício mental rápido: Imagine que você está em um bar em Nova York. O bartender prepara um Moscow Mule clássico: vodka, limão fresco, ginger beer artesanal e gelo, tudo servido na caneca de cobre. O primeiro gole te entrega frescor, picância do gengibre, acidez do limão e um final limpo da vodka. Simples, direto e equilibrado.
Agora, imagine estar em alguma cidade do Brasil. O bartender te serve um Moscow Mule Brasileiro com espuma. A espuma aromática te surpreende logo de cara; ao mergulhar a boca, você sente um drink mais doce, com notas mais suaves de gengibre, e uma textura aveludada que envolve o paladar. Não é o mesmo drink, mas é igualmente agradável.
QUAL EU PREFIRO?
Essa é uma pergunta que sempre me fazem. E eu gosto de responder com sinceridade: eu prefiro o Moscow Mule Clássico, sem espuma. Gosto do equilíbrio simples entre os três ingredientes e da potência da ginger beer artesanal. Aliás, quando não encontro ginger beer na minha cidade ou quando encontro é bem caro (o que é bem comum), eu mesmo faço a minha, com fermentação natural. Dá trabalho? Dá. Mas o sabor compensa cada minuto.
Mas isso não significa que eu desmereça o Moscow Mule Brasileiro. Pelo contrário. Acho sensacional como adaptamos uma receita clássica para o gosto nacional, com criatividade e personalidade. Isso mostra como a coquetelaria está viva, em constante transformação. Só não podemos esquecer das origens.
A LIÇÃO POR TRÁS DO COQUETEL
O Moscow Mule é um exemplo perfeito para mostrar como a profissão de bartender vai muito além de servir bebidas. Envolve história, técnica, criatividade, paladar e, acima de tudo, respeito pelo que se serve. Por isso, quando ensino meus alunos no Curso de Bartender Profissional, faço questão de trabalhar tanto os clássicos quanto as releituras.
Entender o que faz de um coquetel um clássico é fundamental. Saber reinterpretar esse clássico de forma criativa, mantendo a harmonia e o propósito da receita, é o que diferencia um bartender comum de um grande bartender.
Se você leu até aqui, talvez já tenha sentido isso: a coquetelaria é um universo fascinante. E para dominá-lo, não basta apenas gostar de drinks. É preciso estudar, treinar, experimentar, aprender com os erros e, claro, ter uma boa base de conhecimento. E é por isso que cursos sérios, com professores experientes e estrutura adequada, fazem toda a diferença.
Entre o Moscow Mule Clássico e o Moscow Mule Brasileiro, não existe certo ou errado – existem contextos, preferências e propósitos. Um celebra a tradição, o outro celebra a criatividade. E ambos merecem seu lugar na coquetelaria mundial. Mas o mais importante, na minha opinião, é que você – bartender ou entusiasta – saiba o que está servindo, entenda a história por trás de cada coquetel, e respeite tanto a receita original quanto as suas variações. Isso é o que constrói uma coquetelaria de verdade.
E quem sabe, depois de entender tudo isso, você não sente aquela vontade de dar o próximo passo e se aprofundar nesse universo incrível que é o mundo do bar?
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